![]()  | 
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Contos Africanos: A Lua Feiticeira e a Filha que não sabia pilar
A LUA TINHA UMA FILHA BRANCA e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe  em casa um monhé pedindo a filha em casamento. A lua perguntou-lhe:—  Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne  de porco e também não apreciam cerveja... Além disso, ela não sabe  pilar... 
O monhé respondeu:  __  Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode  continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja... Quanto a  não saber pilar, isso também não tem importância pois as minhas irmãs  podem fazê-lo.  A lua, então, respondeu:  __ Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga.  O  monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e  fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de  porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade  naqueles hábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar mas que as  suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta.  Dias  depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs  chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras  do rio e esta desatou a chorar.  As irmãs censuraram-na:  __  Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?... Isso não está  bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.  E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar.  Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse.  A  rapariga começou a pilar mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas  não paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando:  
 __  Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar... Ao dizer  estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão,  começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que,  misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando... até  desaparecer.  Ao verem aquele estranho fenómeno, as irmãs do  monhé abandonaram os pilões e foram a correr contar à mãe o que  acontecera. Esta ficou assustada com a estranha novidade e tinha o  coração apertado de receio quando chegou o monhé, seu filho.  Este,  ao ouvir o relato do que acontecera à sua mulher, ralhou com as irmãs,  censurando-as por não terem cumprido as suas ordens. Apressou-se a ir  ter com a lua, sua sogra, para lhe dar conta do desaparecimento da  filha.  A lua, muito irritada, disse:  __ A minha filha desapareceu porque não cumpriste o que prometeste. Faz como quiseres, mas a minha filha tem de aparecer!  __ Mas como posso ir ao encontro dela se desapareceu pelo chão abaixo?  A lua mudou, então, de aspecto e, mostrando-se conciliadora, disse:  __  Bom, vou mandar chamar alguns animais para se fazer um remédio que  obrigue a minha filha a voltar... Vai para o lugar onde desapareceu a  minha filha e espera lá por mim.  O monhé foi-se embora e a lua chamou um criado ordenando:  __  Chama o javali, a pacala, a gazela, o búfalo e o cágado e diz-lhes que  compareçam, sem demora, nas pedras do rio onde desapareceu a minha  filha.  O criado correu a cumprir as ordens e os animais  convidados apressaram-se para chegar ao lugar indicado. A lua também  para lá se dirigiu com um cesto de alpista. Quando chegou ao rio,  derramou um punhado de alpista numa pedra e ordenou ao porco que moesse.   O porco, enquanto moía, cantou:  __ Eu sou o javali e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!  Nesse momento ouviu-se a voz cava da menina que, debaixo do chão, respondia:  __ Não te conheço!  O  javali, despeitado, largou a pedra das mãos e afastou-se cabisbaixo.  Aproximou-se em seguida a pacala e, enquanto moía, cantou:  __ Eu sou a pacala e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!  Ouviu-se novamente a voz da menina que dizia:  __ Não te conheço!  A gazela e o búfalo ajoelharam também junto do moinho, fazendo a sua invocação, mas a menina deu a ambos a mesma resposta:  __ Não te conheço!  Por último, tomou a pedra o cágado e, enquanto moía, cantou:  __ Eu sou o cágado e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!  A menina cantou, então, em voz terna e melodiosa:  __ Sim, cágado, à tua voz eu vou aparecer!...  E,  pouco a pouco, a menina começou a surgir por entre as pedras do rio,  juntamente com o pilão, mas sem pilar. Quando emergiu completamente  parou e ficou silenciosa.  Os animais juntaram-se todos, curiosos, à volta da menina.  Então, a lua disse:  __  Agora a minha filha já não pode continuar a ser mulher do monhé pois  ele não soube cumprir o que me prometeu. Ela será, daqui para o futuro,  mulher do cágado, pois só à sua voz é que ela tornou a aparecer.  Então o cágado levantou a voz dizendo:  __  Estou muito feliz com a menina que acaba de me ser dada em casamento e,  como prova da minha satisfação, vou oferecer-lhe um vestido luxuoso que  ela vestirá uma só vez, pois durará até ao fim da sua vida. E, dizendo  isto, entregou à menina uma carapaça lindamente trabalhada, igual à sua.   
Assinar:
Postar comentários (Atom)

GOSTEI
ResponderExcluirgostei do texto... mais queria saber o nome do autor desse conto
ResponderExcluir